sábado, 8 de janeiro de 2011

Histórias da Vida Privada Vol. 3 - (da Renascença ao Século das Luzes) Philippe Ariès e Georges Duby

O artigo que aqui apresentamos é um estudo da obra "A História da Vida Privada", em 5 volumes, dos historiadores Paul Veyne (volume 1), Georges Duby (volumes 2 e 4), Philippe Ariès (volumes 3 e 4), Roger Charier (volume3), Gerard Vincent (volume 5) e Antoine Prost (volume 5). 

Cada livro refere-se a vários aspectos de uma época específica. Concentramo-nos acerca do debate sobre a nudez, em seus aspectos de privacidade, intimidade e sociabilidade. Durante a história houve distintas maneiras de tratar essa questão. Tentamos, assim, fundir a argumentação  sob este motivo de maneira simples e didática.

Da Renascença à Revolução Francesa

Evidentemente, é sobre o corpo que as normas da civilidade se exercem com maior rigor. Não é ele ao mesmo tempo a base das paixões, uma incansável moralização das condutas ordena que se esqueça o corpo e respeite a presença divina. 

Ela traça um caminho difícil e cheio de contradições. "Foi o pecado que nos impôs a necessidade de vestir-nos e cobrir de roupa nosso corpo", portanto a vestimenta deve obedecer a uma norma religiosa e moral que em todos os casos associa a nudez ao pecado original.

Em determinados casos essa evolução sobre o corpo e a nudez começou muito antes do século XVIII. A decência específica, exigida na época de início, era que "algumas partes do corpo o pudor natural nos leva a esconder". Depois, a relação com o corpo ficou mais severa: É muito honesto para uma criança pequena manusear suas partes pudentas, mesmo com vergonha e pudor.

Mas tudo não passa de uma única teoria: "O julgamento moral está totalmente integrado à experiência corporal". Ainda que se trate aqui de uma função considerada vil e repulsiva, no entanto com relação aos gestos mais cotidianos, progressivamente, se impõe uma distância que, do corpo ao corpo, tende a intercalar o espaço neutro de uma tecnologia que governa a ameaçadora espontaneidade da sensualidade. Assim como quando se está deitado, não se devia deixar que as cobertas sugerissem a forma do corpo, assim como, "quando sair da cama não se deve deixá-la descoberta, nem colocar a touca de dormir em algum assento ou outro lugar onde outros possam vê-la. 

A vigilância se tornou tão estreita que acabou proibindo toda relação imediata consigo mesmo: o decoro exige também que, ao nos deitarmos, escondamos de nós mesmos o nosso corpo e evitemos lançar-lhe até os menores olhares". Negação radical de qualquer intimidade.

Às vésperas do Iluminismo, toda uma gama de práticas corporais cai, assim, numa clandestinidade furtiva, vergonhosa. Organiza-se ao redor do corpo uma esfera do silêncio e do segredo. Do privado ao público, do íntimo ao secreto: não forçaremos porém, as linhas de uma evolução extraordinariamente complexa. Se é clara a direção em que os comportamentos mudam entre o século XVI e o começo do XIX, tais transformações se efetuaram em rítmos e segundo cronologias muito variáveis. As funções corporais logo são subtraídas ao campo da civilidade.

Do final da Idade Média a meados do século XVIII, nossos tratados em particular ignoram o corpo, à exclusão do rosto e das mãos, que são as únicas partes expostas. Os cuidados concentram-se no visível, na roupa e, sobretudo, na roupa branca, cujo frescor ostentado na gola e nos punhos constitui sinal autêntico do asseio. Porém, ao mesmo tempo, é inseparável de uma idéia do corpo que rejeita a água como um agente perigoso, suscetível de penetrar por toda parte.

A higiene reabilita a intimidade corporal. Enfocada pela medicina e depois levada às escolas, logo se tornará, aliás, o dispositivo inédito de uma forma de controle coletivo dos comportamentos. Vemos que a socialização das técnicas do corpo, por mais que sejam expressamente reguladas, na verdade, só conseguem impor-se através de registros de representações e de práticas estabelecidas, ao mesmo tempo que ultrapassam o campo específico da civilidade.

A roupa foi usada com a função  de esconder a superfície do corpo. Mas faz da intimidade corporal o objeto de investimentos autônomos. A história do asseio não é isolada, em todo caso, convida a reconhecer no mundo dos gestos reprovados a outra forma silenciosa de intimidade.

Autor: Philippe Ariès e Georges Duby
Origem: Nacional
Ano: 2009
Edição: 1
Número de páginas: 3212
Acabamento: Brochura
Volumes: 5
Editora: Companhia das Letras

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